top of page
Foto do escritorCláudia Lemes

Como escrever um livro de ficção

Tem uma boa ideia para um romance, suspense, policial, horror, fantasia, livro erótico ou ficção científica? Vem comigo que vou te dar o passo a passo neste post.


Introdução


No post anterior, expliquei o passo a passo para escrever um livro de não-ficção, ou seja, biografias, livros de negócios, estilo de vida, mentalidade, espiritualidade, nutrição e milhares de outros assuntos.


Neste post, vou te ensinar o passo a passo para escrever um livro de ficção, chamado de romance (narrativa longa de ficção, não necessariamente um livro romântico), mesmo se você nunca escreveu nada antes. Aqui, estou falando de romance romântico, horror, ficção científica, fantasia, distopias, aventura, espionagem, thriller, erótico, tudo o que é ficção de gênero.


É claro que escrever um livro é extremamente complexo e não podemos dizer que é “fácil”. Só que eu sou a favor de dar as caras, começar e terminar (!), passar pelo processo, entender que é capaz, antes de começar a se aperfeiçoar e refinar o seu texto.


Outro disclaimer é: existem um bilhão de formas de escrever um livro. Esta é só uma delas, desenhada para quem está começando agora.


Para quem quiser entender os mecanismos, técnicas e detalhes da escrita criativa, dê uma olhada na descrição, em que eu deixo o link para mais informações sobre o meu curso BOLD, com mais de 130 aulas sobre escrita, mais de 300 alunos e só avaliações 5 estrelas, lá no Hotmart.


Vamos começar?


Vou dividir os passos em 6:

- Premissa

- Estrutura

- Tempestade de ideias

- Escrita cíclica

- Autoedição

- Transformando o livro em produto


Passo 1 - Premissa


O primeiro passo é a premissa. Você já teve uma ideia e é possível que já pensou em várias cenas e muitos detalhes, mas também é possível que só tenha uma ideia vaga da história que deseja escrever. No passo da premissa, vou forçar você a pensar com mais estratégia nessas ideias e as organizar.


Eu quero que você pense em:


Quem é seu protagonista. Se é seu primeiro livro, tente não ter vários protagonistas ou tentar escrever uma saga ou uma obra com mil subtramas. Pela minha experiência, isso raramente dá certo. Precisamos aprender a engatinhar antes de andar e não se engane: o mais “complicado” nem sempre é melhor. De fato, os melhores livros, em geral, têm premissas simples, bem executadas.


Protagonista, vilão. Pense na motivação deles e seus objetivos. O objetivo é o que o personagem quer, a motivação é motivo pelo qual quer isso. Pense na dor do seu protagonista, que ele carrega desde o começo da história: um trauma, um problema, uma obsessão, uma sede de vingança, um medo... qualquer problema que seja grande e afete sua vida – seus relacionamentos, seu trabalho, tudo, negativamente.


O livro é, essencialmente, sobre a jornada do protagonista. É ele que precisa APRENDER alguma coisa. Essa “coisa” é o TEMA. Uma lista de temas comuns:


LISTA DE TEMAS COMUNS (o tema tem a ver com a lição de vida do personagem):


  • Perdão (a si e outros)

  • Amor (a si, família, romance)

  • Aceitação (de si mesmo, circunstâncias, realidade)

  • Fé (em si mesmo, outros, mundo, Deus)

  • Medo (superar medos, dominar o medo, encontrar a coragem)

  • Confiança (em si mesmo, outros, no desconhecido)

  • Sobrevivência (e paixão pela vida)

  • Abnegação (sacrifício, altruísmo, heroismo, superar a ganância)

  • Responsabilidade (dever, ter uma causa, aceitar seu destino)

  • Redenção (reparação, aceitar culpa, remorso, salvação)


Agora você precisa de um grande conflito externo: algum problema grande, ameaçador, de preferência criado pelo vilão, embora não necessariamente, que vai mudar o mundo do protagonista e forçá-lo a embarcar numa jornada.


Anota aí:

  • Conflito externo: problemão

  • Conflito interno: aquela dor do personagem

  • Tema: o que o personagem precisa aprender

  • Objetivo: o que o personagem QUER

  • Motivação: POR QUE o personagem quer isso (ou, o que ele ACHA que precisa para ser feliz, mas que no final, não é o que ele PRECISA).

  • Vilão: a força opositora ao protagonista, alguém para complicar sua jornada, alguém com seus próprios objetivos e motivações.


Agora você precisa definir o cenário, ou seja, o TEMPO e ESPAÇO em que a história acontece. Essa escolha não pode ser aleatória. Pense em lugares que vão potencializar sua história, com espaços bons para as cenas, espaços perigosos, espaços de acolhimento, tudo.


Antes de irmos para o próximo passo, faça as seguintes perguntas:


- Minha história terá uma grande surpresa ou reviravolta? Qual é?

- Qual será o clímax da história, o auge, o momento mais intenso, lá no final?

- Quais personagens secundários eu preciso para incrementar a história? Pense em aliados e inimigos, interesses românticos, mentores, aliados falsos, inimigos falsos, facilitadores, malandros, personagens que simbolizam coisas como espiritualidade, amor, sabedoria, perdão, vingança, violência, corrupção, pureza, justiça etc. Lembre-se que alguns personagens são mais relacionados ao conflito interno, enquanto outros são mais relacionados ao conflito externo.





Passo 2: ESTRUTURAR.


Esse é o passo que vai te ajudar a não se perder durante a escrita, a não precisar reescrever tudo no passo de autoedição, não escrever um livro longo demais ou curto demais e evitar furos. Estruturar não é engessar ou travar a criatividade – isso é besteira de quem não entende de técnica. Alguns autores não estruturam porque já têm uma base e repertório bem sólido, mas se este é seu primeiro livro, por favor, estruture!


Há várias formas de estruturar: Jornada do Herói, Método Snowflake, Dan Harmon, Estrutura clássica em 3 atos, Save the cat!, pirâmide de Freytag, Nigel Watts. A verdade é que, em essência, são todas bem parecidas. E dica: todas são essencialmente sobre a transformação do personagem. Sugiro que você estude essas estruturas mais para a frente. Aqui, estou usando uma mistura de todas para facilitar sua vida, ok?


Abra uma planilha ou escreva num caderno, o que você achar melhor. Divida em 3 partes, com os seguintes nomes:

Ato 1

Ato 2

Ato 3


Ao lado de cada título desses, escreva:

Ato 1 – 1/5

Ato 2 – 3/5

Ato 3 – 1/5


Essas frações se referem ao tamanho do livro, ou seja, o ato 1 vai ocupar, aproximadamente, um quinto do livro e assim por diante.


O que você vai colocar em cada ato?


No ato 1, vai apresentar o mundo, o protagonista, sua dor e alguns personagens grandes. Vai apresentar o conflito externo (o grande problema da trama), e fazer com que o protagonista se comprometa (contra sua vontade ou não) a resolver esse problema.


O ato 1 termina quando o protagonista percebe que o problema é muito maior do que ele imaginava, geralmente quando o vilão faz a primeira coisa horrível. A sensação para o leitor é “putz, não tem mais como voltar atrás.”


No ato 2, você vai traçar uma linha bem no meio. O nome dessa linha é MIDPOINT, ou seja, o momento na metade do livro. Fazendo isso, você dividiu o segundo ato em duas partes: Ato 2 A e Ato 2 B. Isso é importante.


Imagine o MIDPOINT como uma cena em que uma GRANDE COISA acontece. Pode ser uma vitória falsa para o protagonista, ou uma derrota falsa. Pode ser um momento em que temos uma grande reviravolta. Pode ser um acontecimento que muda a trama absurdamente. Uma grande morte. A descoberta de uma grande ilusão.


No Ato 2, você vai colocar tudo aquilo que seu leitor antecipou ler quando leu a sinopse: as batalhas galáticas, as perseguições de carro, os momentos em que a mocinha e o mocinho vão se conhecendo, a investigação para descobrir quem é o assassino... tudo depende do gênero que você está escrevendo. É a parte mais divertida de escrever, com muitos altos de baixos para os personagens, novos personagens, descobertas, alianças e traições.


O Ato 2 A pode seguir essencialmente duas linhas: tudo está dando errado para o personagem OU tudo está dando certo para o personagem. Ele está odiando ou amando a jornada. No ato 2 B, troque isso. Se antes, estava dando tudo certo, faça as coisas começarem a dar errado. Se antes estava tudo dando errado, as coisas começam a dar certo. O que muda tudo é o MIDPOINT.


O ato 2 termina quando o protagonista está diante de um grande dilema. Toda a jornada o levou a seu ponto mais baixo. Ele já entendeu qual era a grande lição que precisava aprender, mais ainda não a manifestou. Ele faz uma grande escolha crítica, ele vira homem ou vira mulher, assim por dizer. O palco está montado para o clímax.


No Ato 3, teremos o grande clímax da história. Aqui, o protagonista manifesta o que aprendeu, a transformação está completa. Há uma grande batalha, um confronto entre protagonista e vilão. Hora da verdade, do tudo ou nada. Um grande sacrifício pessoal, um momento de catarse. É o momento que todo leitor esperou para ler. O protagonista está mais preparado mentalmente, mas deve estar em desvantagem perante o vilão, caso contrário, não tem graça nenhuma. Se ele tem aliados, afaste-os. Se ele tem uma grande arma mágica, jogue ela fora e o faça lutar com as mãos.


Depois do clímax, há a resolução, o “final” do livro. NÃO ENROLE! Depois do clímax, o ideal é que haja poucas cenas antes do livro terminar. Elas devem mostrar as consequências da história, tanto para o prota, se ele sobreviveu, quanto para o mundo.


Tenha em mente que a estrutura é flexível. Muitas vezes, na hora de escrever, você vai mudar de ideia, ter novas ideias etc. E tudo bem. Faça as alterações que favorecem a história, sem medo. A estrutura não é uma tatuagem, ela é só um guia.


Chegou a hora do passo 3: tempestade de ideias.


Você pode começar a escrever ir fazendo a tempestade de ideias enquanto escreve, ou fazê-la antes. Isso depende muito do seu perfil. Muita gente não gosta muito de planejar e prefere colocar a mão na massa, outras gostam mais de ter certeza do que estão fazendo antes de começar. Quero deixar claro que a criação é um processo muito orgânico. Faça o que estiver com vontade de fazer.


A tempestade de ideias funciona melhor se feita DEPOIS da estruturação, porque é feita com mais clareza. É aqui que você vai:


  • Pesquisar sobre todos os assuntos relevantes para a história. Pesquise no Google, mas também converse com pessoas, visite lugares, leia outros livros, veja filmes...

  • Escolher nomes para personagens, criar o mundo, imaginar os cenários, pensar em detalhes que dão riqueza à história, pensar nas personalidades de cada um, seus defeitos e qualidades, suas manias, como andam, falam etc

  • Faça bancos de palavras para ajudar quando estiver escrevendo, por exemplo: verbos relacionados a iluminação; palavras relacionadas a arquitetura, materiais comuns na Idade média, termos náuticos... o que você quiser.


Quando estiver cheio de ideias, comece a escrever!


Passo 4: escrita cíclica:


Como expliquei no outro post, o que mais bloqueia e paralisa escritores é achar que o que estão escrevendo precisa estar perfeito. Você nunca vai terminar um romance desse jeito. A escrita é cíclica! Ela acontece em camadas. Confie nisso, permita-se escrever mal às vezes. Vai dar tudo certo.


Escreva o first draft. Essa é sua principal missão. A primeira versão do livro. Ela é 95% do trabalho. Seu foco deve ser terminá-la.


Isso significa que muitas cenas vão ficar ruins. Significa que você não vai amar todos os personagens. Que vai ter a sensação de estranhamento muitas vezes. Que vai sentir que algumas coisas não se encaixam. APENAS CONTINUE ESCREVENDO. Você resolverá esses problemas depois.


Quanto mais meticulosamente você executou os três primeiros passos, mais chances você tem de estar feliz com seu first draft.


Outra coisa importante é que é natural que você vá e volte no seu texto. Você vai estar escrevendo o capítulo 8 e ter uma ideia excelente para o capítulo 2. Vai, relê, volta, isso tudo é natural.


Eu já observei que pessoas que dividem seus capítulos em arquivos diferentes têm mais dificuldade em ir e voltar e mexer nesses detalhes, elas se perdem com mais frequência. Minha dica é escrever o livro inteiro num arquivo só, para deixar a escrita mais orgânica e facilitar essa natureza cíclica.


Terminando o first draft, vamos para o próximo passo:


Passo 5: Autoedição


Depois de deixar seu livro na geladeira (entre 2 semanas e um mês em que você não vai nem ABRIR o arquivo), você vai reler tudo com o olhar mais crítico, como se fosse um editor e não o autor do texto. Aqui, você vai:


  • Analisar o arco do personagem: ele passou por 5 fases durante a jornada? Fases: negação do problema, relutância em se envolver, investigação do problema, aceitação do problema e manifestação? Isso diz respeito tanto ao problema da trama, ou seja, o conflito externo, quanto a lição que ele deve aprender, o conflito interno.

  • Analisar o ritmo da obra: toda cena move a trama para frente? Há altos e baixos emocionais interessantes? Em algum momento o livro fica entediante, enrola, é chato?

  • Ajustar a coerência dos comportamentos dos personagens, o que inclui seus pensamentos, forma de falar, ações e reações.

  • Ajustar diálogos. Os erros mais comuns: ficar repetindo nome do interlocutor, exagerar na quantidade de incisos, exagerar em “disse” e “falou”, e principalmente, esquecer que o diálogo deve envolver ação, pensamentos, fluxo de consciência e a interação entre personagens e cenário, ou seja, cuidado com diálogos que acontecem num espaço em branco.

  • Pensar e refinar as descrições e a ambientação.

  • Corrigir a escrita. Eliminar redundâncias. Identificar info-dumps (aqueles blocos explicativos de texto), palavras repetidas, e incrementar seu texto, sempre procurando deixar ele mais imersivo, fluido e vívido. Aqui, impera a máxima: mostrar, não contar.


Tendo editado seu original, você já terminou seu livro. Parabéns!


Passo 6: Transformar livro em produto


O sexto e último passo é transformar sua história num produto. Isso é mais complexo porque depende muito de diversos fatores:


  • Como você deseja publicar esse livro;

  • Quanto dinheiro você tem para investir;

  • Se você tem seguidores e pessoas dispostas a ler seu livro ou vai construir sua audiência do zero;


Eu recomendo fortemente que, neste momento:


  • Você procure um leitor crítico BOM, com nome no mercado, que muitas pessoas recomendam. Essa é a pessoa com o poder de revolucionar sua escrita e elevar muito o patamar do seu livro, mas escolha um bom profissional.

  • Quando chegar a melhor versão possível do original, contrate um REVISOR PROFISSIONAL!!! Um bom revisor é a coisa mais difícil de encontrar no mercado. Se não tiver um bom revisor, entre em contato comigo que eu indico um.


Pronto! Seu livro está pronto para ser enviado para um concurso, agente literário, editora e até para publicar. Se você quer um post em que eu explico os vários tipos de publicação, me avise nos comentários por favor.



61 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page