Para toda lista que faço, eu penso no que não estou colocando nela. Neste caso, nos filmes sobre escritores que eu sei que existem e são bons, mas por motivos de força maior eu não tive a oportunidade de assistir ainda. Não tenho a cara de pau de fingir que vi certos filmes, portanto muitos não estão na lista. Para quem está lendo, no entanto, sinta-se livre para acrescentar mais itens nos comentários.
Os Contos Proibidos do Marquês de Sade
Eu precisava começar com o meu preferido da lista. Assisti a esse filme na época do lançamento nas locadoras e pirei, não só pela performance de Geoffrey Rush, mas pela ambientação sombria e meio pessimista e a forma como a compulsão pela escrita é retratada quando o Marquês escreve nas paredes com merda e até o próprio sangue quando tiram a pena dele. O filme toca em outros temas, entre eles a hipocrisia, e é um prato cheio para escritores quando estão numa vibe melodramática.
A Esposa
Um famoso autor ganha o Prêmio Nobel da Literatura, mas há suspeitas de que sua esposa é a verdadeira escritora das obras. A sutileza da atuação da Glenn Close é o que impulsiona o filme para frente, assim como a gradual tensão da trama, que na verdade é bem simples. Os eventos são na maior parte psicológicos, com alguns flashbacks e diálogos afiados que vão tecendo a verdade numa história de mentiras. Excelente filme.
Sidenote: como pode o Christian Slater não ter envelhecido nos últimos 25 anos? Lestat, você teve algo a ver com isso?
Meia Noite em Paris
Não sou fã do Woody Allen, mas por pura pressão da minha mãe, decidi ver o filme uns 8 anos atrás. É daqueles cuja história também é simples, mas com camadas e diálogos que fazem você sorrir, principalmente se consegue pegar as referências. Para mim, o que vale a pena é imaginar-se no lugar do protagonista ao conhecer seus maiores ídolos, como Hemingway e Fitzgerald. É um filme que não te abala psicologicamente, mas que tem sua dose de magia.
Misery
Falando em abalar psicologicamente, Misery é um dos melhores livros do Stephen King, e a mensagem não é nada sutil. A trama é descomplicada, também: um escritor sofre um acidente de carro e é resgatado pela sua “maior fã”, que tem experiência com enfermagem e cuida dele. Quando ela pega o manuscrito do autor, que estava com ele no acidente, e descobre que ele mata a protagonista da série de livros que o tornou famoso, ela pira bonito e exige que o autor escreva o livro de um jeito diferente, tornando-o seu refém. Misery é sobre uma coisa que eu já falei algumas vezes: quando o leitor encara o livro como um produto, e ele mesmo como um consumidor daquele produto, partindo do pressuposto que a história foi feita para agradá-lo. Livros são obras de arte, e a arte nunca vai ser “perfeita” ou agradar a todos, porque não é para isso que ela foi feita. É claro que um leitor pode não gostar de um livro – isso só significa que ele não é o público daquele livro. O que é bizarro é quando ele odeia o livro pelo puro fato de que não foi escrito como ele gostaria que fosse. É por isso, na minha opinião, que Annie Wilkes, a vilã de Misery, é tão infantil no seu jeito de ser. Encarar a arte como algo que é feito para você é infantilidade.
Shakespeare Apaixonado
Não escondo que amo Shakes desde que comecei a fazer teatro em 1992. Eu adoro sua escolha de palavras, a forma como ele conseguiu ser basicamente um plagiador que se safou por causa de seu talento como escritor, e principalmente, a vibe das troupes de teatro na época da minha rainha preferida entre todas, Elizabeth I. O filme Shakespeare Apaixonado só peca pela atuação bunda de Gwyneth Paltrol, que ganhou um Oscar que deveria ter sido de Cate Blanchett. Fora isso, e se você tem noção de que o filme não foi feito para ser fiel aos fatos históricos, ele é divertidíssimo. E para fãs de Shakes, tem muitas referências deliciosas. Eu gosto muito do padre que berra “A plague on both your houses!”, referindo-se aos teatros rivais (coisa que realmente rolava na época), frase famosa de Mercutio em Romeu e Julieta, quando ele amaldiçoa as duas famílias.
Ah, e tem um elenco fodíssimo.
Bônus: Mary Shelley
O novo filme sobre Mary Shelley, disponível no Netflix, me fez chorar rios. Ele não é nada extraordinário, mas é competente e tocante. O foco é nos eventos difíceis da vida de Mary, facilmente compreendidos pelas mulheres que assistirem o filme, e como isso vai moldando a mulher na qual ela se torna. Eu poderia dizer mais em relação a criação de Frankenstein, mas isso pode estragar sua experiência ao ver o filme. Belíssimo e necessário.
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